sábado, 5 de novembro de 2011

ARDINA DE MOÇAMBIQUE - HOMENAGEM JUSTA E NECESSÁRIA PARA QUEM TAMBÉM CONTRIBUI VIVAMENTE PARA A TRANSMISSÃO DA IMAGEM DE MOÇAMBIQUE EM TODO O PAÍS JUNTO DOS CIDADÃOS NACIONAIS E ESTRANGEIROS

"Primeiro Plano. Satisfação do ardina: Fazer chegar Jornal ao leitor sem atraso. O CHÁ é uma bebida prioritária para muitos e tão importante em determinadas épocas do ano e mesmo períodos do dia. Com o calor, muitos o dispensam ainda que seja a primeira refeição para outros. Existem, contudo, aqueles que necessitam dele para poderem suportar as baixas temperaturas que antecedem o romper da aurora.Maputo, Sábado, 5 de Novembro de 2011:: Notícias . Deste grupo estão os ardinas que mesmo com a chuva, tempestade e outras intempéries não rompem o seu compromisso com o leitor. Aliás, a sua satisfação só acontece quando conseguem fazer chegar o jornal a tempo, aos seus clientes, não fosse os atrasos das gráficas, que ultimamente ocorrem com alguma frequência, segundo suas lamentações.Segundo disseram à nossa Reportagem, eles deslocam-se, diariamente, à baixa da cidade do Maputo, provenientes de diversos bairros periféricos. No entanto, enquanto se espera pela chegada do Jornal, há quem necessite do chá para espantar o organismo o calor abafado pelo frio das madrugadas do inverno e mesmo das manhãs do verão. Nalguns casos há que matar a fome de quem inicia o dia muito cedo. A satisfação dessas necessidades passa por uma mão de quem teve visão de uma oportunidade de negócio, a partir da simples venda do Jornal. Na Rua Joaquim Lapa, defronte das instalações do Noticias está um grupo de mulheres com veia do negócio. Elas servem o chá e os respectivos “acompanhamentos” aos ardinas e ganham dinheiro que garante o sustento das suas famílias.Violeta Armando tem 54 anos de idade, 11 dos quais dedicados à venda do chá na rua Joaquim Lapa. É uma oportunidade que surgiu de uma dificuldade: a perda de emprego numa fábrica de calçado que se localizava também na baixa da cidade do Maputo.Segundo contou-nos, vendeu chá nos bons e maus momentos. Contudo, conseguiu dar passos significativos na sua vida, como a reabilitação da sua casa Tipo-2, localizada no bairro de Maxaquene, a construção de uma casa de banho, muro de vedação, instalação de energia eléctrica e ligação de água da rede pública.Para além de vender o chá e cuidar da sua casa, Violeta Armando investiu na alfabetização. Sentiu um desconforto por não poder ler e escrever devidamente. Há cinco anos inscreveu-se pela primeira vez na Alfabetização e este ano concluiu, com sucesso, a quinta classe, tendo sido despensada dos exames. O seu sonho era continuar os estudos, mas porque tem que ir para o ensino privado e não dispõe de dinheiro, se sente obrigada a parar.Espevitou o interesse pelos estudos o facto de querer se familiarizar com a bíblia. “Tinha muitas dificuldades, não sabia ler muito bem e entrei para a Escola Comunitária Santo António da Malhangalene aos 49 anos, na primeira classe”. A nossa fonte fala de bom relacionamento com os seus clientes, embora nalguns momentos haja divergência, mas no negócio isso se desconta, pois não há tempo para rixas. Violeta prevê maus momentos na sua vida, pois o espaço que actualmente usa para vender o chá situa-se defronte de uma instituição que deu aviso para a retirada tanto dos vendedores do chá como dos ardinas até Dezembro.A aquisição de uma nova Gráfica foi um ganho inquestionável para a Sociedade do Noticias, mas há quem chora por isso, neste caso as vendedeiras de merenda porque, parte dos antigos clientes preferem receber o Jornal a partir da Matola, onde o jornal é impresso há mais de um ano.Paulo ArmandoFinanciar estudos construir e casar. Maputo, Sábado, 5 de Novembro de 2011:: Notícias Da venda de jornais já foram conseguidos ganhos significativos na vida. Os ardinas, sobretudo os que começaram a actividade ainda pequenos e com visão futurista são disso o exemplo. Tal como disseram à nossa Reportagem, para além de vender jornais têm sonhos. Parte deles foram realizados mas, como a satisfação é algo inalcançável, querem mais. Paulo Armando tem 25 anos e começou a vender jornais aos 12, hoje, volvidos treze anos sente-se feliz por ter conseguido construir a sua própria casa, com dinheiro da venda de jornais e o seu sonho é um dia vir a ser patrão, e dar emprego a outras pessoas.Deixa a casa às 4.30 no bairro de Magoanine, rumo à baixa da cidade, onde só chega às 5 horas. No inverno tem que ter no mínimo algum dinheiro para tomar um chá enquanto espera pela saída do jornal. Mas, conta, há situações desconfortantes não só para os ardinas como também para o leitor que acontecem nos dias da saída tardia do jornal. Temos que estar preparados para mais uma refeição não programada para além do chá.Para além de se juntarem pela actividade de venda de jornais, os ardinas identificam-se como um só, através de uma associação que criaram em 2007 e que viria a ser formalizada e registada no Boletim da República um ano depois. Constituída por perto de 200 membros dos quais sete são mulheres peca por não ser funcional, pelo menos aos interesses pelos quais foi criada, o que inquieta o colectivo.Apesar da falta de actuação da associação, existe entre eles um espírito de solidariedade muito forte. “Podemos ser divergentes em muitas coisas do nosso dia-a-dia mas sempre que perdemos um colega sentimos a nossa união cada vez mais forte. Contribuímos com valores simbólicos mas que juntos fazem diferença a quem pretendemos apoiar”, disse um dos nossos interlocutores, adiantando que nos últimos anos já perderam cinco colegas.Sérgio Cossa é um jovem que tem a venda de jornais como sua actividade principal, concluiu a 12ª classe e a ideia é continuar a estudar e fazer o ensino superior. Mas por causa da responsabilidade que tem na família tem adiado esse plano.“Vivo com os meus pais e tenho que contribuir para ajudar a família e pela natureza do trabalho só posso fazer o pós–laboral que é caro tendo em conta as minhas responsabilidades e rendimento. Assim parei mas a ideia é um dia vir a retomar.Sérgio CossaPenalizados pelo leitor .Maputo, Sábado, 5 de Novembro de 2011:: Notícias .Cada avaria técnica e consequente saída tardia do jornal faz com que os leitores e ou anunciantes fiquem comprometidos não só por não poder ter as noticias a tempo como também pelo facto de não verem os serviços anunciados.Quando assim acontece, explica Sérgio Cossa, os clientes vêm em nós a falta de responsabilidade na actividade que exercemos. “ Eles não querem saber de atrasos na gráfica e correm logo a colocarem a culpa em cima de quem traz o jornal. Muitas vezes dirigem-se a nós de maus modos e não deixam sequer um espaço para nos justificarmos, como se tudo dependesse de nós”, disse.Os nossos entrevistados contaram que a maior parte dos ardinas é constituída por gente jovem que já fez a 12ª classe. No seio deles nota-se a vontade de fazerem melhor do que fazem. “Temos aqui um colega que infelizmente já saiu. Ele está a fazer o terceiro ano do ensino de francês e custeou os estudos com a venda de jornais”, exemplifica Cossa.A rotina de um ardina da praça inicia às 4.30 da madrugada e dependendo dos dias pode ir até às 22 horas. Nos dias de pico, em que os semanários saem à rua são os mais penosos, pois o ardina levanta o jornal diário e mais tarde tem que ir a outras gráficas para levantar os semanários. Faz a distribuição e venda, muitas vezes até altas horas da noite.Anabela Massingue." Fonte Jornal NOTICIAS.

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