sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

EMPREENDEDORISMO NO FEMININO EM NACALA-PORTO, PROVINCIA DE NAMPULA, MOÇAMBIQUE

AO se aperceberem do fracasso nos seus projectos devido à falta de financiamento, as mulheres de Nacala Porto, em Nampula, não cruzaram os braços, uniram-se e criaram uma cooperativa de crédito, plataforma de acção que tem contribuído para o crescimento dos seus empreendimentos, no geral, e no combate ao desemprego, em particular.
A cooperativa é constituída por mais de mil mulheres. Tem por finalidade proporcionar trabalho às mulheres de Nacala, que se têm ressentido da falta de emprego quer no sector público, quer no informal.
Na Caixa os membros depositam suas poupanças e beneficiam de empréstimo para a criação e desenvolvimento de pequenos negócios.
“A cooperativa dá empréstimo apenas aos membros que só são mulheres de Nacala. Para tal, primeiro a interessada tem de abrir uma conta e depositar um determinado valor. O mínimo a depositar são 200,00 meticais”, explicou Bernardete Correia, vogal da Assembleia-Geral da Cooperativa. 
É com base nos empréstimos que aquelas mulheres conseguem manter os seus negócios e a ajudar os cônjuges a sustentar as suas famílias e educar os filhos, garantindo-lhe escola e saúde.
“Temos a cooperativa como uma plataforma de combate à pobreza que surgiu para contrariar o fenómeno do desemprego que se vive aqui em Nacala”, acrescentou.
Contudo, na visita que a Primeira-Dama, Isaura Nyusi, efectuou àquela Caixa, quando da sua estada em Nampula, as mulheres deram a conhecer que a cooperativa debate-se com a exiguidade de recursos para financiar a todos os projectos das associadas. Pediram à esposa do Presidente para que através do gabinete que dirige ajude no estabelecimento de mais parcerias para a organização com vista a torná-la mais sólida para caminhar de forma firme no empoderamento da mulher.
Na ocasião Isaura Nyusi enalteceu a importância da união entre as mulheres na busca de soluções para os seus problemas e o seu comprometimento no empoderamento desta camada social. Fez perceber que dar poder às mulheres constitui uma das prioridades do Governo e mostrou disponibilidade do seu Gabinete em mobilizar parceiros para ajudar.
JÁ FIZ ALGUMAS OBRAS
DESDE que a cooperativa foi criada, há seis anos, tem beneficiado a várias mulheres. Ruquia Abudo é exemplo disso. Compra material e produz diversos tipos de mobiliário de madeira, entre camas, estantes, mesas e cadeiras.
Esta mulher reconhece o quanto a cooperativa tem sido útil para a sua vida e de sua família e explica como: “Faço este trabalho há cinco anos. Comecei com o meu capital (20 mil meticais), mas vinha fracassando. Quando abriu a cooperativa solicitei um empréstimo e já consegui junto com o meu marido realizar algumas obras”.
Para esta mulher a Caixa dá o mínimo para que a pessoa desenvolva negócio e paulatinamente devolver o dinheiro do empréstimo, pois, ainda segundo ela, as taxas de juro são aceitáveis.
Mãe de três filhos, Ruquia entende que sem a ajuda da cooperativa não teria sido fácil manter-se no negócio, apesar de ter o apoio do marido e de cinco colaboradores.  
LIVRAMO-NOS DOS EMPRÉSTIMOS EM SINGULARES
Lizete Miranda, vice-presidente da Caixa, vende diversos produtos, como carvão, frangos e peixe. Conta que criaram a cooperativa para ajudar as mulheres porque tinham dificuldades em ter acesso aos bancos comerciais e acabavam por fazer empréstimos em singulares e pagavam juros altos.  
Fez perceber que o empréstimo em singulares não ajudava quase nada porque tinham de pagar 40 por cento de juros do valor que levavam, o que não era sustentável para o negócio.
“As nossas taxas de juro são acessíveis. Por exemplo, se eu pego 20 mil meticais o meu pagamento mensal são 2200,00 a 2300,00 meticais. As mulheres têm conseguido devolver o valor”, disse.
Para iniciar o negócio Lizete Miranda beneficiou de empréstimo numa amiga para pagar em juros e só conseguiu devolver o dinheiro todo graças à cooperativa.
“O negócio está a ser rentável e consigo sustentar-me graças a esta actividade. Agora fiz um empréstimo de 30 mil meticais para adquirir mais produtos para a venda e ainda estou no processo de pagamento. Este é o meu segundo empréstimo na Caixa e estou a render. O primeiro foi de 20 mil meticais e já devolvi. Faço empréstimo sem medo de que o dono do dinheiro a qualquer momento venha confiscar-me as capulanas por falta de pagamento”, disse, enaltecendo a importância da cooperativa para a vida das mulheres.
CASAMENTOS PREMATUROS INQUIETAM
Durante a sua estada em Nampula a Primeira-Dama, Isaura Nyusi, reuniu-se também com mulheres de outras áreas. Nas suas declarações as mulheres fizeram perceber que têm trabalhado e se empenhado na sua promoção e na da rapariga com vista ao combate à pobreza no país e em particular na província de Nampula.
Destacaram ainda o facto desta camada social estar envolvida em diversos ramos de actividade e a participar em fóruns de tomada de decisão. Apontaram como exemplo a Presidente da Assembleia da República, as chefes das bancadas parlamentares, entre outras, que ocupam lugares de destaque na sociedade.
“Sabemos que muito está sendo feito em prol da mulher, desde a preocupação de manter a saúde desta e da criança, a criação de oportunidades de emprego, acesso à educação e à justiça social. Contudo, temos ainda desafios, particularmente a erradicação de casamentos prematuros e da violência doméstica, que constituem nó de estrangulamento na nossa província”, lamentaram.
Ingamo Mahamudo, representante das mulheres muçulmanas em Nampula, disse estar indignada pelo facto de ainda persistirem situações de discriminação de mulheres da sua religião devido ao véu islâmico.
“O problema do véu islâmico é uma realidade, ainda não o ultrapassámos. Vimos que ainda existem mulheres que não conseguem tirar algum curso. Estudam, sim, fazem até a 12.ª classe, mas não conseguem tirar algum curso para poder ter algum emprego. Estamos a pedir à nossa mãe para que nos concedam Bilhetes de Identidade e passaportes com o nosso véu”, disse.
Outrossim, Ingamo Mahamudo lamentou ainda o facto de existirem situações de jovens que consomem excessivamente drogas e bebidas alcoólicas até mesmo nas proximidades das escolas.
Quanto a estas inquietações a Primeira-Dama referiu que as dificuldades e problemas que as mulheres de Nampula enfrentam não diferem do que se assiste em outros pontos do país. Encorajou, todavia, a esta camada social a continuar a lutar para o seu bem-estar.
“As vossas dificuldades e problemas são as nossas também e isso nos inquieta e nos preocupa. Temos de ter uma solução. Pedir também para que os nossos problemas sejam resolvidos por nós próprias. No caso de sentirmos que não temos capacidade para resolvê-los podemos pedir ajuda aos nossos dirigentes para que em conjunto encontremos a melhor solução”, estimulou Isaura Nyusi.
Saliente-se que o Governo aprovou nos finais do ano passado a Estratégia Nacional de Prevenção e Combate aos Casamentos Prematuros em Moçambique.
Evelina Muchanga"
FONTE: JORNAL NOTICIAS DE MOÇAMBIQUE.

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