segunda-feira, 25 de abril de 2016

25 DE ABRIL DE 1974, A BEIRA, SOFALA, MOÇAMBIQUE E O 25 DE ABRIL 1974 EM PORTUGAL, HISTÓRIA.

A BEIRA E O 25 DE ABRIL

          Amanhã, 17 de Janeiro de 2004, decorrem trinta anos sobre os acontecimentos da cidade da Beira, Moçambique que  vieram a ser determinantes na viragem da página da História de Portugal, do seu regime político e, consequentemente, abrir caminho à descolonização. Como adiante se verá em quatro versões de autores e perspectivas diferentes, unânimes são, no entanto, quanto aos efeitos dos tumultos na cidade da Beira.
          Por coincidência, encontrava-me nesse dia na Beira, ainda como alferes miliciano, a prestar serviço militar em Tete. Tínhamos combinado um jantar familiar num dos restaurantes chineses, onde estaria o meu primo por afinidade, o então comandante  da 5ª Companhia de Comandos, capitão Luciano de Jesus Garcia Lopes, hoje oficial-general das Forças Armadas, daí a razão da minha presença, pois só terminaria o serviço militar a 15 de Fevereiro. A minha família estava de regresso a Portugal no avião dos TAM (Transportes Aéreos Militares),  voo esse que acabaria por trazer também de regresso o general Costa Gomes, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas que se tinha deslocado à Beira por razão daqueles conflitos. Claro que o jantar não se realizou.
         O então Capitão Garcia Lopes encontrava-se de férias com a família na messe de Oficiais da Beira, no Macúti. Sendo um oficial exemplar, sempre em operações no mato, segundo então me contou, ficou chocadíssimo, perplexo eincrédulo com os insultos ouvidos à sua pátria, à sua farda e à sua família efectuados por um milhar de pessoas que se juntaram, durante o fim da tarde e início da noite, junto da messe de Oficiais. A Policia de Segurança Pública foi impotente no sentido de evitar o apedrejamento aos militares e ao seu edifício, originando uma lesão com maior gravidade ao Capitão Garcia Lopes com a fractura da clavícula direita. Os cuidados médicos, pessoalmente pouco amistosos no hospital da Beira, tiveram de ser continuados ainda na então Lourenço Marques e posteriormente em Lisboa. As manifestações das referidas pessoas prolongaram-se durante a noite, só tendo terminado cerca da uma da manhã, com a intervenção das duas secções da Policia Militar sob o comando do capitão Garcia Lopes e após o abandono do local pela PSP, que se manifestou impotente para as dispersar, avançaram sobre as pessoas que atabalhoadamente fugiram do local.
            Para uma melhor compreensão e análise destes conflitos/tumultos ocorridos em Janeiro de 1974, na cidade da Beira e na Região Centro de Moçambique, permito-me recomendar a leitura das obras de Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso, “O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril - 229 dias para derrubar o fascismo”, da Morais Editores, edição de 1974, pág.284 a 287,de Jorge Jardim, “Moçambique Terra Queimada”, da Editorial Intervenção, edição de 1976,   pág. 160 a 170, de Ricardo Saavedra, “Os Dias do Fim”, da Editorial Noticias, edição de 1995, pág. 18 a 20 e de David Martelo, “1974 Cessar - Fogo em  África”, Publicações Europa América, edição de 2001, pág. 42 a 45.
 Os autores Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso referem-se aos tumultos na Beira no Capítulo V “Raízes próximas do 25 de Abril”, no seu subtítulo “Spínola apoia os capitães contra os racistas de Moçambique”. Jorge Jardim  aborda os conflitos da Beira tendo como título ”Início do enfrentamento” e subtítulos “Tudo começou na Beira” e ”Planeando a descolonização”. Ricardo Saavedra, no prólogo da sua obra,ao falar da situação na Beira, È sob o título “A marcha dos centuriões”, sendo um dos três subtítulos para estes factos, cuja obra
o autor considera ficção. David Martelo insere a sua abordagem  ao assunto no  Capítulo I, “A situação militar em África nas vésperas do 25 de Abril”, no subtítulo “Situação moral”.
                 E a Beira de Moçambique vira a página da História em Portugal:
                 “Parece bem nítido, agora, que os acontecimentos da Beira (desencadeados sob a inspiração dos “democratas”) foram o “detonador” da acção revolucionária que explodiu em Abril”, Jorge Jardim.
                  “No Congresso do Porto, os centuriões obtiveram o rastilho para o Movimento dos capitães; nas manifestações da Beira, coesão para atiçar os nobres sentimentos da classe contra aqueles que os pretendiam transformar em bodes expiatórios”, Ricardo Saavedra.
                    “Não é necessário ser muito entendido em questões militares para compreender o efeito devastador produzido no moral das tropas pelos acontecimentos da Beira. Constituíram, de resto, um marco decisivo da caminhada para o 25 de Abril, relançando, no seio do Movimento dos capitães, a questão da guerra e permitindo sensibilizar oficiais até então renitentes em discutir os seus contornos políticos.”, David Martelo.



Augusto Macedo Pinto, Advogado, macedopinto@teledata.mz

Artigo de Opinião, publicado na pág. 13, na edição do Jornal de Noticias do Porto de 16 de Janeiro de 20
04.

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